MÉDICOS, PACIENTES E PLANOS DE SAÚDE.

Desde a mais remota antiguidade, dados históricos conhecidos do exercício da medicina, na Grécia Antiga de Hipócrates ou no Antigo Egito, referem que o contrato ou acordo de prestação de serviço era combinado diretamente entre o médico e o paciente ou com a família deste.

 Antes do início do uso de dinheiro, na época do escambo, o médico recebia de seu paciente por seu atendimento em animais, grãos (cevada, trigo, etc.) ou tecidos, equivalente àquilo que haviam combinado. Depois, com o advento das moedas a combinação entre as partes passou a ser o valor monetário estipulado por ambos.

 Esta situação se manteve harmônica e eficiente durante milênios, até que na segunda metade do século 20 foram criados os convênios e planos de saúde.

 A partir de então uma empresa, uma figura jurídica se interpôs entre as duas partes, entre as pessoas físicas que sempre se entenderam muito bem. Então a relação entre estas foi completamente turbada.

 Uma empresa que se dispõe a prestar atendimento médico ou qualquer atendimento visa naturalmente o lucro! Aumenta, portanto, aí, o custo do atendimento pois é necessário pagar a manutenção e o lucro desta empresa, coisa que não existia na situação de contrato direto entre as duas partes.

 É fácil entender que para aumentar seus lucros estas empresas procurarão cobrar o mais possível dos pacientes por esta intermediação, e pagar o mínimo possível aos médicos, laboratórios, clínicas de imagem e hospitais.

 Como consequência teremos clientes gastando muito mais do que deveriam e sendo atendidos de forma inadequada por profissionais de saúde mal remunerados e, portanto, insatisfeitos com o que recebem e que se sentem usados.

 Este é o ponto central da questão. Nada mais precisaria ser dito sobre o assunto. Esta é a causa de todos os males e problemas desta relação.

 Para orientação de meus pacientes, lastreado em minha experiência profissional de 47 anos de carreira, 35 deles como professor de cursos de medicina e atualmente como preceptor de um curso de Residência Médica em cirurgia oncológica, vou tecer algumas considerações esperando contribuir com a compreensão dos pacientes sobre fatos decorrentes desta situação.

 Todo bom médico tem uma sólida formação clínica. Depois faz um curso de especialização, ou uma Residência Médica da especialidade que escolheu exercer. Tendo intenção de seguir carreira universitária, fará Mestrado e se possível Doutorado. Ou pode simplesmente exercer a medicina sem uma especialidade em particular. E pode mesmo assim exercer com denodo e dedicação uma boa medicina.

 Para atender bem seu cliente e desenvolver um raciocínio clínico que permita chegar a uma conclusão diagnóstica acertada, um médico precisa de um tempo adequado dispensado ao atendimento de seu paciente. Assim, precisa ouvir com atenção suas queixas, aprofundar estas informações com perguntas detalhando e aprimorando as informações, compondo desta forma uma boa anamnese. Posteriormente, fazer um exame clínico cuidadoso, e finalmente solicitar exames que o auxiliem a confirmar sua hipótese diagnóstica. Mas tão somente os exames que estejam em concordância com seu raciocínio clínico e não uma profusão descabida de exames. Posteriormente, em um retorno, avaliando os resultados dos exames, concluir ou confirmar sua hipótese diagnóstica e prescrever o tratamento clínico ou cirúrgico.

 Isto demanda tempo, dedicação e conhecimento. E o médico precisa ser remunerado adequadamente para que possa dispender o tempo necessário para o bom atendimento, sentir-se satisfeito e poder se dedicar com afinco a essa função. Tem que poder investir em conhecimento, fazendo educação médica continuada, indo a cursos e congressos que custam caro. Custos de cursos e Congressos incluem inscrições caras, passagens aéreas, hospedagens e lucro cessante na atividade profissional nesse período. Profissionais mal remunerados não podem arcar com estes custos!

 Nossa população, em geral com baixa escolaridade e com um ensino cada vez mais voltado para áreas tecnológicas, é muito carente de cultura geral, conhecimentos básicos de biologia, de educação sexual, de necessidades de cuidados com sua saúde, e tem uma grande tendência a ser influenciada por crendices.

 Assim, muitas pessoas pensam que podem resolver suas doenças com uma panaceia, ou substituir um atendimento médico adequado por um “exame ou aparelho moderno” que substitua o exame clínico ou que o médico possa ser substituído por uma avalanche de exames de laboratório ou imagens.

 Tornam-se vários deles em função disso presas fáceis de charlatães. E hoje como os há! A internet pulula de falsas informações e de charlatanismos.

 Os profissionais mal remunerados por planos de saúde que pagam mal, procuram aumentar seus ganhos atendendo um volume grande de pacientes. Em um atendimento rápido, corrido e sem a necessária anamnese e exame clínico bem feitos, por vezes estes são substituídos por uma enorme quantidade de exames desnecessários. O profissional está ansioso por atender rapidamente para poder atender mais um, mais outro, e o volume neste caso é inimigo da qualidade. Ou então encaminhando o paciente para outro especialista, e outro, e outro, ou solicitando quantidades injustificáveis de exames, havendo um retardo no diagnóstico.

 No exercício de minha especialidade, a Mastologia e a Oncologia Ginecológica, por vezes me deparo com atrasos no diagnóstico e início de tratamento de um câncer que teve sinais claros há tempos e que não foram valorizados corretamente pelo tipo de atendimento realizado. Isto compromete as chances de cura!

Os profissionais médicos que atuam na área de imagens, devem fazer um laudo e encaminhá-lo juntamente com o paciente ao médico que solicitou o exame. Devem se abster de fazer comentários sobre o resultado com o paciente, e também não devem ficar sugerindo outros exames para esclarecer melhor o quadro. Quem deve decidir qual exame deve ser feito é o médico que está atendendo o paciente. Muitas vezes é uma biópsia imediata e não outra imagem. Imagens sugerindo outras imagens e eternizando exames dá a impressão de que são indicadas mais para pagar a prestação do aparelho no fim do mês, do que para esclarecimento diagnóstico.

 O incauto e mal orientado paciente fica satisfeito e iludido quando faz uma quantidade abusiva de exames sendo a maioria deles desnecessários. Fica feliz porque: 1) “Pago há tanto tempo e tão caro o meu plano, finalmente vou usar! Vou fazer tudo o que tenho direito”. 2). Contentíssimo porque os exames estão todos normais! É cristalinamente evidente que sim, pois nada tem a ver com seu quadro ou não esclarecerão sua queixa ou provável doença! Não são os que darâo seu tão almejado diagnóstico!

 Por outro lado, dá um tiro no pé! Na planilha de cálculo de custos que a seguradora usou para calcular seus gastos com exames dos segurados, e as estatísticas de sinistralidade da faixa etária do paciente não previram tantos exames e gastos. É evidente que isso se refletirá nos cálculos de aumento e revisão de valores de suas mensalidades futuras!!!!

 O melhor investimento em sua saúde que posso orientar e sugerir é que as pessoas façam uma consulta em caráter particular com um profissional competente, experiente, conceituado entre seus pares, com título de especialista na área que atua. (Isto pode ser confirmado nos Sites oficiais das Sociedades Médicas) E usar as coberturas de seus planos para exames e internações. É um excelente investimento, mais barato, mais eficiente, com muito menor risco de demora na resolução de seus problemas.